Metáforas

Caiu uma estrela do céu, eu vi.
Deixou um risco no ar,
Corri para ver como era
Olhei por todos os lugares e atrás dos montes
Nada encontrei, mas ela caiu, eu vi.

Alguém me disse que era uma estrela cadente
Mas não chega ao chão.
Nada entendi.
Caiu aonde então?

Sabendo que mãe sabe tudo o que não sei, a ela perguntei:
“Por que as estrelas caem do céu?”
Com um doce sorriso, pensou um pouquinho e respondeu:
“Elas não caem, só descem um pouquinho.”
Na idade dos porquês eu estava, mas com as respostas não me contentava.
E voltava a perguntar:
“E por que elas descem do céu?”
Então mamãe me contou uma história:

“Era uma vez uma linda mulher, que tinha muitos filhos.
Era por isso era uma mulher feliz, realizada por ser mãe.
Costumava dizer que ser mãe é estar mais pertinho de Deus.
Era considerada a mulher mais bonita daquele lugar
Seus cabelos tinham ondas como as cachoeiras
Seus olhos a luz dos cristais.
Suas mãos de veludo faziam seus filhos se deliciarem com seus afagos.
Todas as noites ela se sentava na varanda com seus filhinhos e lhes contava histórias.
Brincava de rodas e se divertiam a observar os vaga-lumes dançando no ar,
Enfeitando aqueles momentos com suas luzinhas a piscar.
Quando iam para a cama cantava canções de ninar.
Sua voz era como a das sereias
Que faz o marinheiro se apaixonar.
Ensinava-os também a rezar.”
“Mas um dia, o coração daquela mulher se partiu.
Um de seus filhos foi chamado para morar no céu.
Virou uma estrelinha
Todas as noites então, enquanto as crianças se divertiam com os vaga-lumes,
Ela olhava o céu procurando o seu filho para lhe dar uma piscadela.
Ela sabia qual estrela era.”

“Outros filhos se foram, nasceram mais estrelinhas no céu.”
Muito curiosa eu era e interrompi a história de mamãe voltando às perguntas:
“Mas eu quero saber por que as estrelas caem do céu!”
E mamãe explicou – “Quando elas escorregam e descem um pouquinho
É quando brincam de esconde-esconde para a mamãe procurá-las.”
Novamente interrompi – “Então mamãe, por que tem tantas estrelas no céu? São somente os filhinhos que deixaram as mamães que estão lá?”
“Oh, não querida!” - disse mamãe com ternura - “Vê aquelas estrelas maiores e brilhantes?
São as mamães que também viraram estrelinhas e foram morar no céu. Elas eram mulheres lindas e por isso enfeitam as noites, mas de lá olham por seus filhos aqui.”
Naquele momento tive grande medo de que mamãe me deixasse para virar uma estrela.
Senti um arrepio na espinha, pois de todas as mamães do mundo a mais linda era a minha.
Ouvindo a história de mamãe, dormi. Quão rapidamente voaram os anos. Cresci. E ainda observando o céu vejo meus irmãozinhos brincando de esconde-esconde comigo dando piscadelas para mim.

Caiu uma estrela do céu, eu vi. Mas dessa vez não corri, sei que era mamãe brincando comigo. Pois era a estrela mais linda e brilhante que já vi.
Caiu uma estrela do céu, eu vi e já com marcas do tempo no rosto, molhado por lágrimas de saudade, para mamãe eu sorri.


Autora: Maria Aparecida de Paiva
Maio de 2007.